O sopro do maliri, cortesia de Denilson Baniwa.

O que é este projeto?

Nós vivemos em um momento em que o conhecimento tradicional dialoga com as ciências ambientais, em que a arte contemporânea se cruza com o ativismo indígena e as práticas museológicas vêm sendo decolonizadas em tempo real (ao menos é o que estamos tentando). São estas as confluências que buscamos capturar neste projeto.

Como antropólogo e documentarista de formação, além de curador e consultor científico para grandes exposições sobre culturas e meio ambiente amazônicos, venho testemunhando diariamente como essas novas narrativas estão emergindo em museus e galerias de arte, na pesquisa acadêmica e na mídia indígena.

Contudo, o entrelaçamento entre essas poderosas narrativas raramente vem sendo acompanhado de perto e traduzido para um público mais amplo. É aqui que queremos atuar.

A Velha História vs. A Nova História

O modo como nós pensamos a Amazônia hoje está ligado a um roteiro devastador iniciado no Brasil há cinco séculos. Como a gente sabe, lá em 1500, os exploradores portugueses recém-chegados escreveram à coroa espantados por terem se deparado com um “paraíso fértil”, "em que, se plantando, tudo dá".

Acontece que essa fantasia de fertilidade traía um sonho agrícola – era preciso plantar! — e refletia uma completa incapacidade de enxergar a sociobiodiversidade já instalada nas florestas brasileiras.

Esse mal-entendido fundacional lançou séculos de extrativismo que quase extinguiu as árvores de pau-brasil ainda nos primeiros anos da colonização. Com o tempo, chegamos à destruição de 93% da Mata Atlântica, 50% do Cerrado e 20% da cobertura florestal da Amazônia (apenas nos últimos cinquenta anos!).

Essa visão "mineradora" sobre a fertilidade das nossas florestas — como João Moreira Salles recentemente colocou em Arrabalde (2022) — tem não só impactos ambientais, como humanos, já que historicamente ela trata os povos indígenas como trabalhadores descartáveis, valorizados apenas por aquilo que seu conhecimento da floresta permitia acessar.

Para atestar a atualidade (e a vitalidade) desta história, basta assistir ao premiado documentário de Alex Pritz, O Território (2022), em que se pode ver um grileiro dizendo à câmera que o Brasil foi “construído” por homens como ele, "que entraram em terras indígenas para torná-las produtivas".

A bem da verdade, podemos dizer que esta narrativa só começou a ser contraposta em meados do século XX, ganhando impulso sobretudo quando a Constituição Federal de 1988 finalmente reconheceu direitos fundamentais aos povos indígenas e outras minorias de nosso país.

Desde então, vozes da floresta têm encontrado espaço para alcançar audiências cada vez mais amplas, passando do tradicional foco na predação ambiental para uma ênfase na simbiose invisível que está por trás da fertilidade desta parte do mundo.

E aqui é bom lembrar que esta simbióse não se dá somente entre os entes que chamaríamos naturais (os animais, as plantas, os fungos), mas entre nós e o mundo, pois, como diz o pensador indígena Ailton Krenak: "nós somos o meio ambiente". O que quer dizer que, de um lado, não há separação entre humanos e o organismo vivo que é a Terra. E, de outro, que a nossa linguagem importa na nossa relação com o mundo, pois,

O que estamos construindo aqui

Confluences foi pensada como uma plataforma de intercâmbio de conhecimento voltada à apresentação de perspectivas amazônicas para audiências globais (por isso teremos edições bilíngues, em português e inglês).

Nosso objetivo aqui é traduzir pesquisas complexas em histórias acessíveis, conectar temas que frequentemente não conversam entre si e ajudar a construir redes entre comunidades, acadêmicos e instituições culturais pelo mundo.

Assim, mais do que uma newsletter, a ideia é que esta seja uma comunidade dedicada a proteger a Amazônia, ao transformar o modo como o mundo a compreende.

O que esperar

O nosso plano é apresentar uma edição abrangente a cada duas semanas, chegando à sua caixa de entrada nas sextas-feiras.

Além de um apanhado das principais notícias sobre a Amazônia, da resenha de recentes trabalhos científicos, artísticos e curatoriais, teremos entrevistas com artistas indígenas, pesquisadores ambientais e sociais, curadores de museus e cineastas e resenha de livros, exposições e obras de arte que não são tão recentes assim, mas que ainda têm muito a nos dizer.

A newsletter também é um lugar onde três coleções especiais crescerão ao longo do tempo: Fatos Básicos (dados essenciais que todos nós precisamos saber sobre a floresta amazônica), Léxico Amazônico (definições de termos-chave para diálogo intercultural) e Forest Memes (uma coleção de grandes ideias no formato que segue o espírito dos nossos tempos).

Tudo é gratuito e seguirá gratuito porque esta é uma aposta no compartilhamento de conhecimento como ferramenta de transformação. Eventualmente, adicionarei assinaturas pagas opcionais para apoiadores que quiserem nos ajudar a expandir este projeto.

A velha história diz que a Amazônia é um espaço vazio esperando para ser desenvolvido. A nova história a revela como uma das regiões mais biodiversas e culturalmente complexas do mundo, lar de povos que têm sido guardiões e promotores da diversidade ambiental por milênios.

Qual história moldará o futuro?

Bem-vindos à Confluences.

Junte-se a uma comunidade que acredita que o futuro da Amazônia depende de amplificar as vozes daqueles que melhor a conhecem. A cada duas semanas, uma nova edição na sua caixa de entrada.

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